E seu salto agulha espeta o chão, como se fosse seu pior inimigo. Pretos, de couro, brilhantes. Vorazes. Não sou só eu quem está bobo com a vista da bela mulher que invade a porta do bar, roubando a cena. Metade dele está. A outra metade só está bêbada demais para vê-la. Sentou-se sobre o balcão e não olhou para ninguém.

Ver uma mulher de vestido sentar-se, é colírio para os olhos. Um único movimento e os coxões morenos estão de fora. Eu sentado a poucos metros dela, a devoro com os olhos, enquanto seu perfil se mostra uma das coisas mais lindas que já vi.
Tão logo, o barman coloca o primeiro drink de graça sobre o balcão, de frente para ela. Cortesia de um otário de meia idade, do outro lado do bar. Ela mal olhou para o drink à sua frente, tampouco para o mané que tentava a cortejar.
Pensei na possível aproximação. Tá, era uma idéia idiota. Uma mulher gostosa e sozinha intimida qualquer macho predador nesse mundo. Inclusive a mim. Nos iguala a crianças de frente para o maior ídolo. Por momento algum, desgrudei os olhos. Minha cerveja poderia esquentar, eu pediria outra. Mas ela poderia sair por aquela porta a qualquer momento e eu não teria a chance de comê-la.
A porta de madeira do bar se escancara novamente. Olhando aquela mulher à minha frente, esqueci-me que estava esperando alguém. Uma qualquer. Qual era o nome dela mesmo? Já não fazia muita diferença. Eu só sei que a minha companhia para aquela noite exalava um perfume forte, terrivelmente doce, a saia curtinha, as pernas finas. Olhei-a de relance e depois me levantei para cumprimentá-la, com um galante beijo na bochecha. Tão ruim conhecer o paraíso e ter de se conformar com o purgatório!
Por educação, dei mais atenção à mulher que estava comigo, do que aquela que eu definitivamente queria. A magricela era chata, ciumenta, não falava nada mais do que “Aiiinnnn Amorrr!”. Quem foi o maldito que criou essa mulher? Onde fui arranjar aquilo? Conteite-me com a escolha que fiz. Não era o suficiente para mim, mas aguentei firme. Só sei que voltaria naquele bar mais vezes. E uma dessas vezes, eu teria vergonha na cara e tentaria falar com aquele fascínio.

Qualquer dia, Hoje não. Hoje ei de me contentar com a escolha.
texto original de: Camila Marciano

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